“SERÁ PARA SEMPRE O QUEIRO, NÃO TEM JEITO”

Lucas. Compartilhávamos o mesmo nome. Fomos aprovados na mesma lista de vestibular em 2020. Nos mudamos para a mesma cidade. Entramos na mesma sala. Convivemos no mesmo grupo. Viramos irmãos de mães diferentes em busca do sonho de nos tornarmos médicos. Não foi acaso; eu precisava aprender com você.

Estávamos em uma cidade nova, com pessoas diferentes, longe da nossa família. Estávamos entrando em uma rotina exaustiva que é a da medicina. Um caminho longo pela frente. Sentíamos muito medo e insegurança com o novo. Aos poucos, o medo foi dando lugar à cumplicidade e à alegria. Isso porque surgiu uma verdadeira amizade: éramos parceiros durante o estudo da faculdade, na montagem dos trabalhos em grupo, mas também naquele copo de cerveja que virávamos a noite. Éramos parceiros nos momentos bons, na doença, em tudo… Com o seu senso de união, você criou um grupo de amigos, o Danone F.C, que virou uma verdadeira família nessa rotina da faculdade. Hoje, o grupo sofre com a ausência de quem o tanto idealizou.

Nesses últimos 5 anos, você se destacou como um ótimo aluno, com ótimas notas e elogios de tantos professores. Você fazia o resumo de todas as matérias e compartilhava com toda a turma. Possuía tanta humildade nesse ato que já pedia desculpas se tivesse errado em alguma parte na escrita. O seu altruísmo era admirado por todos.

Você sempre falava da sua família; aliás, todos os dias que você ligava seu computador na primeira banca da sala de aula, a foto de fundo era sua com seus pais e seu irmão. Você os colocava em evidência e falava tanto dos planos com os seus. Você honrou sua família até o último suspiro.

Você era o amigo que chamava para sair, que fazia questão de ter os seus por perto, chamava para uma praia, para um bar ou somente para escutar um sertanejo e conversar em casa. Você era a companhia que todos gostavam de ter. Aquela companhia em que as horas viravam minutos. Como foi bom cada momento com você.

A cada comemoração que planejava fazer com sua namorada, Andressa, você pedia uma opinião. E eu via seus olhos cheios de boa vontade para alegrar a sua companheira. Como pôde você ter sido incrível em tudo?

Com o fim da sala de aula e o início do internato médico em 2024, nossa convivência diária foi se estreitando. Mas isso não mudou nossa amizade. Nos falávamos sempre sobre tudo. Você mandava todo o conhecimento que estava ganhando nos plantões. Eu gostava tanto de ouvir suas experiências. E você era um bom ouvinte. Todas as experiências que vivia, você perguntava com um entusiasmo que ninguém nunca havia me perguntado. Nos seus últimos dias aqui, senti uma necessidade de lhe encontrar para comemorar seu aniversário que havia passado há pouco tempo, mas a rotina estava tão puxada que resolvi fazer diferente. Cheguei de surpresa no seu último plantão no HGE. Um plantão noturno, sua última sexta-feira à noite. Você tomou um susto comigo lá, abriu um sorriso e falou uma frase sua peculiar: “Irmão, que satisfação ter você aqui”. Passei aquele tempo lhe acompanhando no que você mais gostava de fazer: cuidar do próximo. Como você fazia isso bem. Pedimos um simples lanche, fizemos uma pausa e, naquele intervalo, conversamos sobre a vida. Foi rápido e simples, mas ao mesmo tempo tão genuíno. No amanhecer, me despedi de você pela última vez. Como foi bom lhe ter em cada momento. Foi lindo, meu irmão.

Após o dia 02/08/2024, passei a enxergar tanto sentido naquela frase que diz: “Os bons partem cedo”. De tanto que você preencheu nossas vidas, você hoje deixa uma lacuna enorme. És insubstituível. Sempre falarei do Queiroz, farei questão de levar seu nome e o quão incrível você foi. Hoje, vivo minha rotina nos plantões e, sempre que vejo um caso que seria interessante de compartilhar com você, não me desespero mais para lhe enviar uma mensagem, uma foto… Eu não me desespero porque sei que hoje você está comigo, acompanhando tudo, me ajudando a cada plantão, a cada dia … Porque você permanece em meu coração. Tudo que eu fizer terá um toque seu. Você está eternizado e será sempre honrado.

Reconheço que não sou capaz de escrever tudo sobre você ou escrever tão bem quanto eu acho que você seria capaz de escrever sobre mim, com todo aquele seu empenho em fazer tudo que lhe era atribuído. Me sinto limitado diante do tanto que você foi, não cabe em palavras.

Enfim, os desígnios de Deus não nos competem questionar, sei que hoje você está na morada do nosso Pai, a melhor morada de todas. Descanse em paz e até breve, meu irmão.